sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

O ÓPIO DO POVO



por Paulo da Vida Athos

A sociedade não finge não ver. Na verdade, parte dela, e muito pequena, sabe sobre os grandes traficantes. A maioria esmagadora é tangida a olhar para o outro lado, o lado que a mídia expõe que é o tráfico praticado pelos fernandinhos, dos zezinhos e outros inhos mais.

A grande massa é isso mesmo: massa. Gado. Olha para o caminho que lhes é mostrado. Nada mais. A mídia coloca o assassino, o seqüestrador, o estrupador, o latrocida, os tiroteios e as balas perdidas, coisas que vendem muito jornal de papel e televisivo, nessa enganação histórica que provoca o sujeito alvo a aceitar que a culpa da miséria e da fome, da falta de habitação e do sistema de saúde, do abandono de nossas crianças que breve se tornarão bandidos e venderão mais jornais, é deles mesmos, desses bandidos cretinos que infestam nossas esquinas, guetos e favelas. Bom que morram na cadeia em alguma rebelião.

E a mídia acena com o canto da sereia da banalização da pena contra a banalização da vida e o povo morde a isca, e nossos legisladores de má fé ou por estupidez crônica aumentam as penas como se fosse possível ou razoável crer que se vá combater a criminalidade que nasce da miséria e do abandono com mais prisões.

Enquanto isso continua a pousar na pátria amada aviões carregados de cocaína, containeres passam por nossos portos-corredores portando toneladas do pó-do-diabo em direção à Europa, Japão e Estados Unidos, para destruir milhões e enriquecer alguns poucos: os verdadeiros barões do pó.

Historicamente as ditaduras sul-americanas sempre se valeram do tráfico. As décadas de ditadura deram know-how aos civis e reconheçamos que é muita grana para se largar assim de mão.

Hoje as poderosas associações criminosas do narcotráfico se expandiram, se sofisticaram, se globalizaram. Não estão mais engalanadas, estão dolarizadas. Não à toa vemos exércitos se digladiando na América do Sul, exércitos de um mesmo país, todos mercenários pagos pela cocaína, lutando em solo colombiano e na região amazônica.

No Brasil, para não fugir à regra, empresários bem sucedidos estão envolvidos. Sempre estiveram. Sempre estarão.

Durante décadas o Tio Sam sempre fechou os olhos para isso, e se é de seu interesse, ainda hoje fecha. Aliás, até investe no tráfico, e, quando não mais lhe interessa, derruba seu sócio, como ocorreu com Noriega. Quando decidiu invadir o Panamá, Bush pai despachou 20 mil soldados para enxotar Noriega do poder. Bush pai foi diretor da CIA, a quem Noriega serviu muitos anos como delator. Quando deixou de interessar aos americanos, tomou um bico - como tantos outros.

Logo, não é isso que chamo de Justiça Social. Isso é corrupção. Então, para combater a corrupção se deve atentar para os poderes que o dinheiro dá ao poder. A mídia faz parte do poder. Não estou dizendo que jornalistas são traficantes. Mas sim afirmando que os grandes empresários manipulam a mídia para que a população continue nessa viagem ofertada pela droga oferecida pela imprensa.

Tudo isso sem falar nos danos provocados pela corrupção de nossos políticos e os saques contra o erário. Mais danoso que um milhão de assaltantes...

Não é a religião nem o futebol o ópio do povo.

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